segunda-feira, 26 de maio de 2008

"LATROCIDAS" DERRUBAM A FÁBRICA DE BENEFICIAMENTO DE CACAU MAIS ANTIGA DA AMÉRICA DO SUL.






*Valério Bomfim



Vezes na vida que na ânsia de acertar, fazemos coisas de que nos arrependemos pelo resto de nossas vidas. Já diziam meus mais velhos, se arrependimento matasse[...], Foi assim, que na tentativa de acertar, hoje, acredito que mais uma vez errei.


A derrubada da fábrica da empresa Cacau Industrial no dia de hoje (26) me deixou com um turbilhão de sentimentos, de perda, de raiva, de desolação, de impotência, de que fui roubado, que minha história, a história de meus ancestrais foi arrancada de mim,de culpa. Culpa de ter participado ativamente e ajudado a alçar ao poder os que hoje mataram parte da história de meus ancestrais. Sabemos que o prédio representava um perigo para a segurança publica, que estava bastante desgastado do tempo e do abandono de seus proprietários e de nossos governantes.


A solução adotada pelo governo e pela justiça – cega – demonstra o grau de respeito e valor que é dado ao nosso patrimônio cultural, a nossa história, as nossas raízes, a nossa ancestralidade.


A derrubada da primeira indústria de beneficiamento de cacau da América do Sul é uma vergonha para todos os ilheenses pois mostra que não temos nenhum compromisso com o que é velho e as gerações futuras, não aprendemos a conviver harmonicamente com a dualidade, velho e novo.


Mais uma vez, a saída foi a mais fácil, assim perdemos todos nós. Aquele local deveria ter sido transformado em um museu. Pelas fotos divulgadas fartamente e com “alegria” pelos energúmenos de plantão, mostram que dentro do prédio existem maquinas muito antigas, usadas para fazer o beneficiamento de cacau, quiçá as mais antigas do país, provavelmente do mundo, máquinas não mais fabricadas.


Com esta derrubada o poder público da mais uma demonstração da total ignorância e falta de respeito com a historia da cidade. Poderiam ter acessado milhões de reais do ministério da Cultura e da Unesco para sua reforma e Ilhéus ter ganhado outros milhões advindos do turismo e da riquesa que ele produz.


A história do chocolate no Brasil estava ligada uterinamente com a desta indústria, da família proprietária, da região cacaueira e da industrialização no Sul da Bahia.


Não se faz necessário lembrar do valor arquitetônico, do prédio, das fachadas, com ícones que denotam a época áurea do “fruto de ouro”, da chaminé de mais de dez metros a mais alta da Bahia. Esta atitude impensada, insensata e irresponsável é um ato ignorância, lamentável, principalmente se pensarmos que Ilhéus de uns vinte anos pra cá, ou se preferirem de uns cinco governos para cá, anda tão sem memória.


A derrubada demonstra a falta de preparo para gerir uma cidade que exala e respira história como Ilhéus, uma cidade quase da idade do país, mãe desta região, ex Capitania Hereditária, mantenedora da nação brasileira por um longo período. Com um pouco de inteligência poderia ter transformado aquele lugar espaço cultural, de arte, negócios – feira de artesanatos – turismo histórico e cultural, memorial, museu, qualquer coisa, menos numa montanha de escombros e ferros retorcidos.


Onde está o instituto histórico de Ilhéus, o ministério público, a câmara de vereadores, o conselho de cultura, a fundação cultural, a associação comercial, a CDL, os lions os rotarys, as igrejas e tantos outros órgãos e organizações que dizem lutar por Ilhéus?


A pergunta que não quer calar será que a motivação para tal ato é mesmo a segurança do povo? Lendo Gerson Marques, no r2cpres, ele dizia: “quando construírem uma aberração modernosa e fizerem um supermercado no local, os saudosos irão promover uma exposição fotográfica da mais antiga indústria de chocolate das Américas e dirão aqui jaz a memória de um povo. Ilhéus já teve isso”.


PS: Latrocínio= Roubo, seguido de morte[...], primeiro "roubaram nossas mentes", quando nos fizeram crer que seriam diferentes dos anteriores, que seriam melhores. Depois mataram parte da nossa história de nossa identidade.


*Professor e Graduando de jornalismo

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