quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Simulacro da brancura

*Marcio André dos Santos do Rio de janeiro

Comum nos EUA e na África do Sul, o debate em torno da branquitude tem chamado a atenção de alguns pesquisadores brasileiros. Sem pretender adentrar muito no tema, a branquitude consiste em um conjunto de mecanismos no qual a identidade dominante nos diversos contextos pós-coloniais, a de homem branco, prevalece e exerce poder sobre as outras identidades, hierarquizando visões de mundo e determinando, conseqüentemente, a “redistribuição” de espaços de poder, ou seja, fazendo o poder circular no interior de somente um grupo. O termo não substitui a idéia clássica de dominação de classe ou outra categoria sociológica qualquer. Pelo contrário, se pensada de maneira interrelacionada com outras categorias explicativas de subalternidades raciais e sociais, esta termina por potencializar em muito a compreensão das lógicas de dominação nos mais variados contextos. No caso brasileiro, a branquitude tem se afirmado enquanto espaço de exercício de poder dos grupos brancos (notem o plural) sobre as outras coletividades, notadamente as coletividades negras. O mecanismo é tão bem construído que os próprios brancos “esquecem” que o possuem. Teóricos e analistas sociais importantes das ciências sociais e das humanidades, mesmo ao elaborar explicações das relações raciais brasileiras, deixam de lado ou não problematizam suficientemente seu próprio lugar enquanto pesquisadores brancos. Selam assim com os demais o chamado pacto silencioso da brancura. Por lugar de branco entenda-se espaço de reprodução e usufruto de poder: poder econômico, social, simbólico, de produção cultural, de interpretar realidades, enfim, um conjunto abrangente de poderes que ideologizam a dominação e que, vez ou outra, conta com a bondosa colaboração de membros dos grupos subaternizados. Em outros termos, ser branco no Brasil significa capitalizar todos os bônus sociais e psicológicos advindos disso. Quer dizer que um branco pobre, desempregado, etc, também usufruiu deste bônus? Secamente falando, sim. Por mais que continue pobre, desempregado e digno de políticas públicas de inclusão social, esse branco termina por levar vantagem se comparado a um negro. Neste sentido, todo bônus pressupõe um ônus.

Quando Ronaldo diz que é branco, o que ele quer na verdade dizer é isso: “também quero esse bônus que a brancura traz. Também quero capitalizar para mim as vantagens que a (suposta) democracia racial brasileira (ou se preferirem, o racismo brasileiro camuflado de democrático) me possibilita por passar-me branco, casando-me com brancas e cegando meu passado de negro.

Se a branquitude é a ideologia oculta dos brancos, a declaração de Ronaldo acaba de atestar que ela também pode servir para alguns negros. Não como válvula de escape do mulato, como propagado por muitos tempos atrás, mas como atalho ao mundo branco tão profundamente sonhado e desejado. Sem receio de errar, podemos dizer que o sonho de Ronaldo será a exata desgraça cognitiva de milhares de crianças e adolescentes negros brasileiros, registrados como pardos, pretos ou mesmo brancos em suas certidões de nascimento. O “Fenômeno”, que boa parte deles entendiam por negro, diz que é, na verdade, branco. Como na letra da música: “ovelha branca da raça, traidor!!” Não custa, estórias assim vão começar a pipocar lares afora: “Papai, também vou dizer por ai que sou branco, tipo o Ronaldinho. Quem sabe assim aquela menininha branquinha lá da escola não olha pra mim. Quem sabe assim a professora não me faz elogios também” (essa uma ficção). Ou então: “Mãe, queria pegar a doença do Michael Jackson e ficar branco”. “O que é isso, pra quê que filho?” “Porque na minha escola ninguém quer brincar comigo, falam que é porque eu sou preto”. Silêncio... Angústia... Novamente o silêncio... Com o choro aprisionado, a irmã me chama: “André, vem aqui falar com ele, pois já não sei....” (essa, verídica, aconteceu lá em casa com o meu sobrinho. Felizmente o pretinho continua gostando das músicas do Michael, mas não tá nem ai pra doença dele. Agora prefere ouvir os Racionais).

O desserviço para a auto-estima das crianças negras e não-brancas feito por Ronaldinho Antifenomenal é de tamanha proporção que prevejo um mercado de trabalho promissor para psicólogos sociais que se formarão daqui a uns cinquenta anos. O craque dos gramados jogou a merda no ventilador ao denegar sua identidade racial, dando descarga no vaso com todas as forças à sua negritude. Só em pensar que crianças, adolescentes e mesmo adultos de praticamente todo o planeta se inspiram em sua história de “superação” da pobreza e de sucesso profissional, dá um arrepio grande.

Lembro de um filme americano (pra variar) muito interessante chamado Esquadrão da Reforma (Drop Squad) que expressa bem a idéia desse ensaio. Um grupo de afro-americanos radicais tipo Panteras Negras dos anos 90 seqüestram outros afro-americanos que trabalham em empresas de brancos e ao ascenderem socialmente “esquecem” totalmente suas comunidades e de condição de negros. Os seqüestrados ficam durante semanas, meses, sob tortura psicológica pesada, revendo momentos emblemáticos da cultura negra norte-americana e a luta pelos direitos civis até recobrarem a “lembrança” do lugar de onde vieram. Alguns simplesmente não “respondem” bem ao processo e ficam durante longos meses imersos na brancura recém conquistada e outros, após muito Marvin Gaye e Harold Melvin na mente, voltam pouco a pouco a valorizar seu real pertencimento. Não que esteja proponho o seqüestro (ao menos metaforicamente) do nosso ex-Fenômeno, mas bem que ele devia passar uns meseszinhos preso para parar de brincar de ser branco. Ser branco é mole, quero ver é ficar com a cara preta estampada as porradas da realidade e ainda por cima ter orgulho de ser o que se é. Não basta dizer-se contra o racismo e a discriminação racial, como declarou. Há que se ter coerência. O anti-racismo racista brasileiro já expôs a sua total falácia: ao confessar que há racismo nega que seja racista. Ou seja, lava as mãos. Estamos longe da pretensão de estabelecer o que seria certo ou errado neste sentido. Quem tem boca, afinal, fala o que quer. Agora, peralá... Tudo tem limite. Esse menino está brincando com os nossos brios. Levamos quase o século 20 inteiro para convencer a negligente elite brasileira e a sociedade a reconhecer minimamente a existência do racismo e a começar a nos tratar com a dignidade que exigimos e vem esses ex-negros brincar de ser branco!! Sinceramente, fica difícil.

Melhor torcermos desde já para essa onda não se espalhar feito uma tsunami embranquecedora. Imaginem se o Robinho resolve aparecer amanhã e dizer que é branco também, ou então o Cafu, o Grafite, o Romário, o Ronaldinho Gaúcho, o Junior Baiano, o Pelé... Bom, quanto ao Pelé, melhor deixar pra lá por enquanto. É... e muitos duvidavam da eficácia do sistema.


*Marcio André dos Santos é sociólogo e mestrando em ciências sociais na Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
E-mail: marcre27@yahoo.com.br

sábado, 8 de setembro de 2007

RENOVAÇÃO COM RESPONSABILDADE.

Estamos a dias da eleição do NOSSO sindicato – SINSEP. É tempo de pensarmos e escolhermos bem quem vai nos representar pelos próximos dois anos, não podemos e nem devemos repetir os erros do passado, precisamos ter responsabilidade com o nosso voto, para que tenhamos representantes verdadeiramente comprometidos com as nossas categorias desde o primeiro dia de mandato e não somente às vésperas da eleição. Representantes que lutem pelo PLANO DE CARGOS E SALÁRIOS, PLANO DE SAÚDE, TICKET’S ALIMENTAÇÃO,REFEITÓRIO PARA OS FUNCIONÁRIOS DA LIMPEZA URBANA, INSALUBRIDADE (para todos os que têm direito e não somente para os apadrinhados),ADICIONAL NOTURNO,PERICULOSIDADE,MATERIAL DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL,FARDAMENTO e todos os DIREITOS que nos foram dados pela CLT e outras leis, e que nunca foram respeitados na íntegra.

Não queremos um sindicato que esteja no BOLSO do patrão, mais um, que lute pelas causas comuns e que mostre resultados, NÓS merecemos mais que simples discurso, merecemos RESPONSABILIDADE, por estes e outros motivos, é que decidimos entrar na disputa e colocar o nosso nome para sua apreciação, temos uma história de luta com os AGENTES DE TRÂNSITO que mostra o que podemos fazer quando temos vontade e acima de tudo RESPEITO e RESPONSABILIDADE pelos que nos confiaram seu voto e nos credencia para mais esta empreitada. Aproveitamos para já neste manifesto, pedir o seu apoio e o seu VOTO, para juntos mudarmos os destinos de nossas categorias e de NOSSO sindicato.

No dia 25 de setembro vote na NOSSA chapa, RENOVAÇÃO COM RESPONSABILIDADE, e juntos,construiremos uma nova página da história de NOSSO sindicato.

MUITO OBRIGADO E ATÉ A VITÓRIA.

Valério Bomfim
Candidato a Presidente